30.4.08

Hein?

E agora isso.

As palavras estão desertando na certeza de quem vai perder. Me deixaram aqui desarmada e sem recursos, todos os subterfúgios não passam de bobagens. Não me atrevo a piscar os olhos que é pra não perder nenhum detalhe. Todas essas coisas estão ocupando espaço dentro de mim, talvez por isso o meu coração se aperte, talvez por isso as borboletas voem, talvez por isso a música toque.


Mas tudo não passa de suposições. Está chovendo aqui.


Os sentidos estão em todas as partes e o sentido está em lugar nenhum, todo sentido deu-se férias e saiu pra passear com a lógica. Todas as não-afirmações, os silêncios e as esperas estão batendo no meu ombro e eu insistentemente os recuso a atenção que me imploram. Estou negociando com a esperança mas ela parece inflexível.


Eu vou dormir antes que seja tarde, ou, porque está tarde.

19.4.08

Uma nota sobre a morte.

A beleza das flores estava lá, mas mesmo elas murchariam com o tempo. Assim como o corpo sem vida que tentavam cobrir.

Toda carne é como a flor da erva¹: passageira.


Hoje eu vi a dor de perto. Vi lágrimas de uma saudade implacável. Vi o sofrimento de laços que se rompem. Eu vi a morte, de novo.


Mas, hoje, eu olhei pra cima. Além das lápides e túmulos com fotografias antigas, eu vi o céu, e ele estava lindo. O sol estava se pondo e as nuvens mais pareciam pinceladas brancas no grande azul.



Hoje eu vi o amor de perto. Vi a misericórdia de um Pai amoroso com seus filhos, garantindo que lhes prepararia lugar². Vi uma aliança de Sangue que é inquebrável. Eu vi a vida, pra sempre.







Hoje eu resolvi tirar meus olhos do passageiro e começar a enxergar o que é eterno.








¹"Porque: Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a palavra do Senhor permanece para sempre." 1Pedro 1:24-25

² "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também." João 14:1-2

18.4.08

História de Transeuntes.

Ela sempre gostou do contato do vento com a sua pele, mas adorava quando ele brincava com seus cabelos. Naquela tarde de vento frio ela caminhava determinada pela rua de paralelepípedos. Lembrou dos tempos em que se esforçava pra dizer a palavra que acreditava ser a maior de todas: paralelepípedo.

Ele sempre gostou do pôr-do-sol, mas adorava quando ele resolvia tingir o céu inteiro.Naquele final de tarde rosa-alaranjado ele caminhava confiante pela rua não-asfaltada. Lembrou do tempo que se divertia chutando pedrinhas na rua.



Esquina.Esbarrão.Choque.




Aqueles dois nunca mais veriam a tarde do mesmo jeito.