30.10.09

- Qual o DDI pra Oz mesmo?

- Alô?
- (...)
- É, eu sei que a minha voz tá estranha, eu tava dormindo. É bom mesmo que seja urgente.
- (...)
- Hum, sei.
- (...)
- Com a amiga ou com a psicóloga?
- (...)
- Então, "fale-me mais sobre isso".
- (...)
- Eu ainda não entendo qual é o problema. Como é que você pode querer algo que nunca teve? Como é que você sabe que é bom?
- (...)
- Tá,você quer correr o risco.
- (...)
- Humrum, eu sei, eu sei. Não vou mentir pra você... É bom.
- (...)
- Não, você está ciente das partes ruins, não está?
- (...)
- Tem. Aquelas em que você chora. Ei, isso ia fazer um estrago em você...
- (...)
- Não dá pra se contentar com a sua amígdala artificial, não?
- (...)
- Ok, me desculpe. Eu estou de mal-humor.
- (...)
- Ôu, Brilhante. Eu não sei o que lhe dizer. Eu preciso do meu, e mesmo assim ele não serviria pra você.
- (...)
- Eu acho que você deveria passar uma temporada nesse mundo aqui. Você se sairia muito bem e ninguém repararia na sua deficiência. Hollywood te adora, você não viu o Ironman? E mesmo todo mundo por aqui tendo coração, parece que tá meio fora de moda usá-lo.
- (...)
- É sério. Você é mais gentil do que muitos deles.
- (...)
- Estamos combinados, então.
- (...)
- Sim, você vai precisar contribuir com a conta de energia.
- (...)
- Mando sim.
- (...)
- Beijo, tchau!


Foto by Nadine

24.10.09

.Relicário.

Sua figura no horizonte era cansada,em cada passo parecia haver um esforço absurdo para continuar. O sol a pino, a areia fofa, o ar parado.
Mais poeira do que pele.
Mais flagelo do que roupa.
Mais corpo do que gente.
Contudo, ainda assim, era você. Mesmo por trás de toda aquela neblina que lhe cercava, reconheci o seu andar. Mesmo por trás das recém adquiridas rugas, reconheci seus olhos. E eles eram os mesmos, o mesmo calor e a mesma intensidade estava lá. O reconheceria entre milhares e milhares, reconheceria até que se passassem cem anos.
Então corri, corri com todas as forças que tinha, corri todas as batidas do meu acelerado coração. Quando toda a distância, e o tempo e o espaço desapareceu entre nós, você sussurrou com o resto de fôlego que tinha: vencemos.

23.10.09

.uma gota de limão.

Com opulenta convicção seus dedos erguem-se em arrogância, a língua afiada ansiosa para fazer aquilo que faz de melhor. Aqueles tamborilam sob a mesa, enquanto esta estala na impaciente espera para que o outro se cale, cedendo finalmente espaço para o seu brilhantismo contido se expressar (porque aos seus próprios olhos é isso o que é: brilhante!). Dedos e língua em ação, falta-lhe as idéias. Mas, isso não é exatamente um problema, já que basta rebater as do outro impiedosamente. Não importa se talvez o infeliz tivesse com alguma razão, não interessa se ele tenha trazido algo que nunca pensou antes, nem se dava ao trabalho de ouvir. O fato é que as suas próprias idéias eram melhores. Sua posição era sempre a mais sábia. Sua opinião, indiscutível. Esqueceu-se de um pormenor importante: "melhor" é sempre um adjetivo (ou advérbio) comparativo, e comparar implica necessariamente em tomar conhecimento do outro. (Mas pff, isso só sou eu aqui falando). E se você caro leitor, achar que não tem nada a aprender com alguém assim, engano seu. Não há nada mais fácil de se fazer para parecer esperto do que abrir a boca e: criticar