29.10.10

.(der)rota.

Há quem diga que a vida é cheia de decepções. Você não foi o bebê mais fofo, a criança mais linda, o aluno mais aplicado. Talvez não tenha sido o filho mais disciplinado, o neto mais querido ou o sobrinho mais paparicado. Provavelmente não foi o adolescente mais popular que arrebanhava suspiros apaixonados por onde passava. Você pode nunca ter tido o carisma de conquistar milhões de amigos. Talvez nunca tenha sido o atleta excepcional que todos desejavam no time ou talvez não tenha passado nos primeiros lugares do curso sem status que escolheu cursar. É possível que não seja o profissional mais criativo, sempre elogiado pelo chefe. Talvez nunca tenha conseguido aquele emprego que paga bem. Você não foi o namorado perfeito, o marido dos sonhos ou o pai que qualquer um gostaria de ter. E assim você segue, se definindo por tudo o que poderia ter sido, mas nunca foi. Segue acumulando negações. Segue convicto de todas as decepções que causou pelo caminho inclusive aquelas que causou a você mesmo. Resignado, você aceita. Nem pra sofrer você é muito bom.

Você passou a vida inteira questionando suas habilidades, sua aparência e seu jeito. Viveu insatisfeito por nunca ter alcançado o sucesso que esperava, tentou entender porque era assim e muitas vezes se revoltou-contra seus pais, sua classe econômica, seu país e contra Deus. Você só não se perguntou de onde veio o modelo.

Você obviamente duvida muito de si mesmo, mas nunca duvidou do padrão. Nunca parou para pensar de onde veio a referência que usa para mensurar seu sucesso. Não refutou os critérios. Quando as contas deram tão errado, você nunca questionou a unidade de medida.

Só um encontro com o Criador é que poderia ter o colocado em perspectiva. Ninguém o conhece tanto quanto Ele. Ele o teria contado o propósito para que você foi criado, Ele o reconciliaria Consigo mesmo. O amor dEle substituiria os esquemas errados que você aprendeu nessa sociedade torta em que vive. Você seria algo mais do que um vencedor: seria curado.

Se fosse assim, você veria o bebê esperto, a criança simpática ou o filho querido que foi. Seria grato pelo amigo de infância que mantém até hoje. Teria reparado que a garota da última fileira tinha uma queda por você. Acreditaria quando elogiassem seus olhos bonitos ou sua voz afinada. Daria valor à habilidade que tem em contar histórias, consertar coisas e cultivar o jardim. Perceberia as contribuições que fez na empresa. Você iria reparar no olhar de admiração do seu filho e no quanto sua esposa o ama.

O pior fracassado é o que não consegue entender que já venceu.


18.10.10

.sobe?.

No elegante elevador revestido de granito e mármore, com um carpete no piso e espelho no fundo, a sua tranquilidade acompanhada pela bossa nova instrumental não se abala. Os botões sensíveis ao toque e o visor digital mostram o suave ascender pelos andares.
Do lado de fora da luxuosa cabine, porém, há uma realidade desconhecida. Os cabos enferrujados produzem estalidos e balançam perigosamente. A falta de revisão comprometeu a casa de máquinas e a estabilidade do engenhoso transporte está-literalmente-por um fio.

Não é a apresentação- por mais adorável que ela seja- que importa. Investir nela não resolve os problemas da estrutura. No fim das contas, eu quero estar a salvo com um sistema que funcione.

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"Mas todos nós somos como o leproso, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam."Isaías 64:6