20.2.10

.Débora.

Mesmo depois das coisas incríveis que vimos cheias de histórias e tesouros secretos, a melhor surpresa ainda estava por vir. Não era um museu ou castelo antigo- em certas circunstâncias talvez pudesse ser chamada assim também- mas, era uma pessoa. Seus olhinhos apertados enquanto sorria e a vasta cabeleira branca deveriam tê-la denunciado, mas na hora nem imaginei que tipo de pessoa era ela. Eu era uma figurante, um arroz, sabe? Estava ali só acompanhando o grande encontro da minha avó com sua amiga que não via há muitos anos. Estava empregando a minha estratégia de falar só o necessário e sorrir simpaticamente enquanto observava quieta no meu lugar. Foi então que eu percebi. Sua casa com ares de refúgio, os porta-retratos espalhados pelos móveis, a família que ela exibia com orgulho. Mas foi quando olhei em seus olhos que vi. Aquele brilho misterioso de quem já viveu tantas coisas, as palavras ponderadas de quem encontrou a sabedoria, a paixão com que fala de sua fé.
Quando perguntada como se conservava tão ativa no auge de seus 85 anos, ela sorriu. São 85 anos de "juventude acumulada". Quando ela ergueu sua voz e a fez reverberar por toda a sala, não pude duvidar da canção que entoava : "Eu vejo Deus em toda parte sim, até dentro de mim, em todos os órgãos meus. Eu vejo Deus na imensidão do mar, aonde quer que eu vá, eu vejo Deus." Então, eu também pude ver. Nas doces despedidas nada mais puder dizer do que: obrigada.

3 comentários:

Igor Chacon disse...

\*-*

Débora Oliveira disse...

Nossa, que lindo.
Tomara que, assim como minha xará, eu também acumule toda minha juventude!

:*

Lua disse...

que bonito. :)