13.11.10

. Ao soldado desconhecido.

Depois de tantos meses naquele inferno ele já não reconhecia os sons. Já não se importava com os estrondos, não distinguia mais o cheiro da ração que lhe serviam ou do odor da decomposição ao seu redor. Não diferenciava cores- não havia cor além da tríade cinza, verde e marrom. Não reconhecia os próprios membros. Braços e pernas eram massas articuladas e doloridas. A saudade de casa era uma lembrança longínqua, turva. Começara a duvidar da veracidade de sua memória e se questionava se as imagens apagadas dos doces momentos que viveu não passavam de uma ilusão da sua mente cansada. Já não sabia o dia da semana, não sabia a aparência do seu rosto, não sabia se ainda era humano.

Mas era. Humano, quero dizer. Talvez fosse algo mais. Um daqueles homens dos quais o mundo não era digno. Não foi quando carregou o colega de infantaria nas costas pelos longos 37km pedregosos que provou isso. Não foi quando atravessou a perigosa linha fronteriça para resgatar o oficial bastardo que frequentemente o humilhava. Não foi quando cedeu o seu lugar no acampamento ao Stuart para que ele pudesse ficar perto da parede e dormir. Ele provou sua honra quando diante da chance de desertar, de abandonar o martírio e desistir, voltou. Sua honra- não orgulho ou patriotismo- sua honra não caberia numa medalha, ainda que ela fosse de honra ao mérito.
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Um comentário:

Igor Chacon disse...

"pra que tanto medo de não ter a cara em bronze numa praça?"
=***